Renúncia surpresa na Vivo e queda de 6% na Bolsa: oportunidade de compra ou motivo para pânico?
Mercado teme enfraquecimento da gestão, mas vê a empresa com bases sólidas para seguir ritmo de expansão: enquanto o Bradesco BBI cortou a recomendação da ação, o Itaú BBA viu oportunidade de compra e o BTG Pactual reiterou visão positiva
SÃO PAULO - A Telefônica Brasil (VIVT4), dona da marca Vivo, terá novo presidente a partir de 1º de janeiro do ano que vem. O anúncio foi visto pelo mercado com apreensão e leva as ações da companhia a figurarem como a maior queda do Ibovespa nesta segunda-feira. Às 11h11 (horário de Brasília), os papéis caíam 6,23%, a R$ 43,92, após baterem na mínima do dia desvalorização de 7,02%, a R$ 43,55.
Eduardo Navarro, atual presidente do Conselho de Administração da empresa no Brasil, assumirá a presidência da companhia no lugar do israelense Amos Genish, que ocupava o cargo desde 2015 e foi encarregado de executar o processo de integração da Telefônica com a GVT, vendida pela francesa Vivendi à tele espanhola há dois anos por quase R$ 25 bilhões.
O temor do mercado é que a mudança de comando enfraqueça um dos principais pilares da tese de investimento da Telefônica Brasil, a de gestão de primeiríssima linha, comentaram os analistas Fred Mendes e Tales Freire, do Bradesco BBI, que rebaixaram hoje a recomendação das ações para neutra. Segundo eles, a renúncia aumenta os riscos de execução para ganhos de sinergia com a GVT e a alocação inteligente de capex (investimentos em bens de capital), que pode ser pressionada.
Genish assumiu a Telefônica para integrar a GVT em maio de 2015. Naquela época, a expectativa do valor presente líquido das sinergias entre as duas teles era de R$ 14 bilhões. Ao longo de 2015, esse cálculo foi elevado para R$ 22 bilhões e, neste ano, mantido o ritmo atual pode atingir R$ 25 bilhões - praticamente o mesmo do custo da aquisição da GVT.
Segundo o Credit Suisse, que também classificou a notícia como negativa para a empresa, destacou a importância de Genish no negócio, eleito recentemente um dos melhores CEOs no Brasil e visto pelos investidores como um dos pilares do investment case e a pessoa chave para a integração com a GVT. No entanto, do lado positivo, eles destacam que a transição deve ser suave, ja que o Amos vai ficar no grupo por um tempo; Eduardo Navarro tem experiencia no setor de telecomunicação; uma importante parte da transação com a GVT já foi concluída; e boa parte das sinergias esperadas já foram capturadas.
Em teleconferência realizada nesta manhã, Genish disse que a renúncia foi uma “decisão pessoal” e que trabalhará com Navarro para garantir uma transição suave. Ele disse que não trabalhará em outra operadora no Brasil pelos próximos anos e que a empresa continuará com um time forte e fundamentos sólidos.
Por outro lado…
Diante da aguardada reação negativa da ação na Bolsa, o time de análise do Itaú BBA, chefiado por Susana Salaru, disse que a notícia poderia criar uma oportunidade de compra da ação. “Enquanto Amos tem sido fundamental na integração GVT e em desbloqueio de sinergias, a Telefônica tem uma posição sólida competitiva apoiada por uma lacuna em infraestrutura, quando comparados aos seus pares, o que se traduz em serviço superior e permite que a empresa tenha um posicionamento de preços premium”, comentaram os analistas.
Além disso, eles ressaltaram que a Telefônica não apenas oferece o melhor serviço mobile e fixo no Brasil, como criou uma vantagem competitiva que não é fácil de ser replicada. Por conta da solidez do case, eles seguiram com recomendação outperform (desempenho acima da média) para a ação.
O BTG Pactual também segue confiante no case: embora a notícia tenha visto mais cedo do que o previsto, com a expectativa de uma mudança somente a partir de 2018, quando as margens da empresa já estariam rodando mais próximas do patamar esperado pós-fusão com a GVT (ao redor de 35% contra os 31% de hoje em dia), eles dizem que é inegável o sucesso e a rapidez com que a integração da GVT vem evoluindo, diminuindo bastante o risco de execução relacionado à integração. “A contribuição vinda das sinergias são visíveis e cada vez mais relevantes nos resultados, sem contar que já foram revisadas para cima duas vezes (80% no total)”, disseram.
Segundo eles, a reação negativa hoje não seria uma surpresa, dado que trata-se da substituição de uma figura central para a companhia, no entanto, a Telefônica é uma empresa líder em uma indústria que está passando por mudanças significativas e muito positivas (cenário competitivo muito melhor, regulatório finalmente conspirando a favor das empresas) e está muito bem posicionada para se beneficiar dessa transformação. Os analistas reiteraram recomendação de compra.