NTCO3 - Natura

A Body Shop é o que a Natura precisa?
Natalia Viri

A notícia de que a Natura está tentando comprar a The Body Shop deixou muitos investidores otimistas: a transação transformaria a Natura numa empresa global, com uma trincheira bem estabelecida no varejo físico (canal onde ela ainda é caloura) e uma clara rota de crescimento.

Adquirida pela L’Oréal em 2006, a The Body Shop tem mais de 3 mil lojas ao redor do mundo e faturou € 920 milhões (R$ 3 bilhões) no ano passado, menos da metade dos R$ 7,5 bilhões da companhia controlada por Luiz Seabra, Guilherme Leal e Pedro Passos. As duas companhias são almas-gêmeas: ambas tem uma estória de respeito ao meio ambiente.

Mas, apesar de parecer positivo e até óbvio à primeira vista, o negócio traria um enorme desafio de execução – e a Natura não parece o candidato ideal para enfrentá-lo.

Alguns acionistas avaliam que a Natura poderia aprender com a expertise da The Body Shop no varejo físico para em seguida fazer deslanchar sua incipiente rede lojas próprias, mas os números sugerem que é a britânica que precisa contar com algum choque externo de gestão.

Com o aumento da concorrência, as vendas e a rentabilidade da Body Shop vêm minguando ano a ano. Seu faturamento caiu 5% no ano passado e o resultado operacional recuou 33,8%, para €33,8 milhões. A margem operacional é de apenas 3,7%, contra uma média histórica de 25% na Natura.

“A Natura ainda nem sabe administrar lojas… Vai administrar uma rede de lojas que perde dinheiro?”, questiona uma fonte que trabalhou em inúmeras transações para a empresa.

Há dois meses, quando a L’Oréal decidiu colocar a rede à venda, um analista da Bloomberg comentou que “qualquer comprador precisaria fazer uma reformulação pesada, fechar boa parte das lojas e investir em canais online e mídias sociais, reposicionando a marca para os millenials.”

Não é à toa que os competidores da Natura na oferta são fundos de private equity — todos com histórico e apetite para um turnaround. Além da Natura, estão no páreo investidores financeiros como o CVC Capital Partners e o Advent. O mercado especula um preço de US$ 860 milhões (R$ 3 bilhões), igual a um ano de faturamento.

Os que torcem pela aquisição dizem que a Natura já teve uma experiência bem-sucedida em sua única aquisição de um ativo internacional, a australiana Aesop, comprada em 2013 pela bagatela de US$ 70 milhões. Em apenas quatro anos, a receita e o EBITDA quadruplicaram, para R$ 580 milhões e R$ 115 milhões, respectivamente.

Mas a realidade é que as estórias são completamente diferentes. Focada no mercado ‘premium’, a Aesop já era uma história de crescimento e tem uma escala muito menor do que a da Body Shop. Hoje, a australiana tem 176 lojas em 20 países, quase o dobro das 80 de quatro anos atrás, quando a Natura entrou no capital (no Brasil, são apenas duas lojas).

“A Aesop era um balão de ensaio, com uma escala mais controlável e não tinha potencial para arranhar tanto os resultados da Natura, mesmo se as coisas dessem errado. Na Body Shop, o risco de execução pode destruir o valor da companhia”, afirma um analista.

Natura e Body Shop têm origens parecidas e, provavelmente, o mesmo signo do zodíaco. Ambas nasceram na década de 1970. Enquanto o ‘eureka’ de Luiz Seabra foi valorizar a flora brasileira, no Reino Unido a ativista Anita Roddick laçou seu negócio sob a bandeira da sustentabilidade ambiental e social, e foi uma das primeiras a abolir os testes em animais.

Agora, quase 50 anos depois, as empresas enfrentam ao mesmo tempo a crise da meia-idade. O que era um diferencial se tornou uma commodity: o conceito ‘verde’ lançado pelas empresas ganhou apelo — mas atraiu competição.

Perdida no portfólio multibilionário da L’Oréal, a Body Shop vem enfrentando a concorrência de marcas mais jovens como a britânica Lush, que tem o mesmo apelo sustentável e é mais conectada com os millenials.

A oportunidade de comprar a Body Shop vem num momento em que a Natura começa a obter os primeiros resultados de sua tentativa de revitalizar seu modelo de negócio: o canal de vendas diretas – que consagrou a empresa — não foi capaz de garantir crescimento nos últimos anos.

A transformação tem vindo a passos lentos. A Natura vende produtos da marca ‘Sou’ em 3.000 farmácias desde 2015, e começou a abrir lojas físicas no ano passado. Por enquanto, são apenas sete unidades e não há planos oficiais para escalar o novo canal. As vendas pela internet começaram em 2013, inicialmente com a intermediação das consultoras. Mas apesar de tentar se tornar uma empresa multicanal, as vendas diretas ainda respondem por mais de 90% do faturamento da Natura, graças a seu exército de 1,3 milhão de consultoras.

“Eles estão reconhecendo que o canal de vendas diretas está exaurido e estão fazendo uma guinada para o varejo físico. Eles têm uma marca forte. Precisam de outra? Acho que eles estão meio perdidos”, diz um gestor baseado em Nova York.

A demora em encontrar uma nova estratégia vem custando caro. Em 2010, a empresa liderava o mercado de higiene e beleza, com 14,9%; no ano passado, caiu para 10,8% — praticamente empatada com o arquirrival Boticário, que encerrou 2016 com 10,6% de participação contra 6,9% seis anos antes. (No mesmo período, a Unilever ganhou 2,2 pontos percentuais e assumiu a dianteira, com 12,6% do mercado.) Em números mais concretos, a Natura cedeu ’share’ para a concorrência em 5 milhões de lares.

No ano passado, Seabra, Leal e Passos trocaram o comando. Roberto Lima, que ficou apenas dois anos à frente da companhia — período no qual, nas palavras de um gestor, “tentou um pouquinho de cada coisa, para ver o que colava” — foi substituído pelo vice-presidente comercial, João Paulo Ferreira.

Ferreira está engajado em romper a letargia e retomar a ofensiva para que a Natura volte a ter o crescimento que atraía os investidores na primeira década dos anos 2000. Numa reunião com investidores no início deste mês, pela primeira vez em pelo menos três anos os controladores compareceram ao evento, e estavam em sintonia fina com o novo CEO.

Mas, ao que tudo indica, a Body Shop pode ser um passo grande demais.

Como a Natura está começando a dar a volta por cima
Natalia Viri

Há anos sofrendo para reenergizar suas vendedoras, fazer frente a uma concorrência acirrada e se transformar numa empresa multicanal, a Natura parece finalmente ter encontrado uma estratégia que funcione.

O CEO João Paulo Ferreira, há um ano no cargo, está conseguindo o que seu antecessor Roberto Lima foi incapaz de entregar: virou de cabeça para baixo o modo como a empresa se relaciona com suas mais de 1 milhão de consultoras, calibrando incentivos e reduzindo o tíquete mínimo dos pedidos – e colocando a companhia finalmente de volta ao jogo.

Resultado: no terceiro trimestre reportado ontem à noite, a produtividade das vendedoras subiu 15% e a receita avançou 5,2% no Brasil, o melhor desempenho desde o começo de 2014.

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Boticário compra a Vult; negócio pode chegar a R$ 1 bi
Geraldo Samor

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Poxa, Legal a Natura dando a “volta por cima”.

Faz tempo que não via, esse ano foi bom para ela.

Ruim mesmo é a questão do endividamento que dobrou, dívida líquida x Ebtida está em 3,3…alto.

A questão é saber qual é a desse endividamento…o por quê dele? Estão investindo em algo? Realmente estou por fora.

Verdade é que é uma dívida pesada, mas por outro lado, mesmo com a dívida aumentando a produtividade aumentou, receita aumentou, Ebtida na casa dos 30% de evolução, lucro dobrou!!

Preciso estudar melhor esse ativo, não sei se há algo de não recorrente nesse lucro todo, to achando tudo muito estranho…dobrar dívida, e aumentar produtividade, diminuir pela metade o prejuizo financeiro(receita ffinanceira)…dobrar a lucratividade…tudo muito estranho

Cadu, sabe algo?

De toda forma, num P/L de 20, se tudo estiver dentro do normal(volto a dizer, aparentemente está esquisita a coisa)…ja da para começar a colocar no radar.

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Não conheço direito essa empresa. Mas sei que fez um investimento pesado comprando a The Body Shop.

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verdade! a noite vou ler os ultimos releases p entender isso

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A dívida aumentou por conta da compra da Body Shop mesmo.
O desafio agora é ver se a Natura consegue administrar um business maior que ela, e de alcance global. A empresa já tem tentado fazer a transição de venda porta a porta p/ e-comerce, e com esta nova aquisição tende a acelerar isso. Mas não acho que a integração vá acontecer tão rápido assim.

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Pois é…

Os efeitos da Body Shop iniciaram no 3T2017, então “de verdade” mesmo, saberemos disso no 3T2018, claro que isso já será analisado a partir de agora, como foi a partir do próprio 3T2017.

Vou ficar de olho nessa empresa, poderemos ter boa noticia para esse case, que voltou a um preço bem razoavel nesse P/L de 20(sempre foi muito maior, inclusive nos piores momentos da empresa).

Só não consegui entender a questão financeira. A dívida dobrou em 2017, mas o resultado financeiro foi “muito bom” apesar dessa dobra, pois o resultado financeiro ficou em 317 M negativo, metade do ano de 2016 e no patamar do ano de 2015, quando a dívida era quase metade da dívida do ano de 2017.7

Não consegui entender essa “engenharia”. Saberia dizer o por quê disso, Cadu?

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Isso pq a nota promissória relativa ao endividamento vence em fevereiro/2018, então as despesas financeiras só começam a impactar negativamente a partir do 1T 18.

Ah…entao o bicho cai pegar esse ano…

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Acho uma baita empresa em um setor formidável, onde as margens são insanas. (Tem nada melhor que vender para mulher! rs)
Os números já estão na plataforma, Cadu? Ainda não estão no Fundamentus. O resultado do ano só não foi melhor porque os dois primeiros trimestres ainda estavam pressionados pela fusão.
Daqui para frente, acredito que tem potencial para retomar e superar os níveis de lucro de 2012. A estratégia de abrir lojas próprias acho que será muito vencedora.

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Hoje a noite o robô deve atualizar com o novo resultado.

Tivemos uma mudança contábil neste ano, o IFRS16, o que deve gerar mudanças nos resultados. Esta nova regra contábil introduz um modelo único de arrendamento, substituindo as normas anteriores. Ou seja, empresas que possuem patrimônios que não sejam próprios, como imóveis, equipamentos, e qualquer outro tipo de bens, terão seus resultados impactados.

As novas regras acabaram com a nomenclatura de contrato de leasing financeiro e leasing operacional. Com o IFRS16 todos os contratos de arrendamento, independentemente de serem financeiros ou operacionais, terão que estar registrados no balanço patrimonial por meio do registro do direito de uso daquele contrato do respectivo passivo

Por conta disso, no modelo antigo o LL do 1T 19 foi de 41.9M, mas no novo modelo o LL caiu p/ 13.5M.

E outra observação, neste caso de NATU, com a nova regra contábil, não é possível saber se o LL cresceu ou não, visto que a empresa não reapresentou o balanço de 2018 com esta nova regra contábil.

Logo, o investidor tem uma dificuldade a mais p/ analisar muitas empresas neste ano. Utilizando o novo padrão contábil, o resultado foi bem fraco, como é possível ver nos indicadores trimestrais anualizados do 1T 19, e o ativo está caro:

natu2

Empresa NATU3
Cotação atual 50,47
Preço alvo pelo PSBe esta em 40,97 com potencial de crescimento de -19%.
Pelo FCD, utilizando uma taxa de crescimento de 8% ano, p/ os próximos 5 anos, com 9% de taxa de desconto, chego a um valor de 26,49.
Na cotação atual, e considerando uma perpetuidade de 0, o mercado esta precificando pelo FCD um crescimento anual de 34% p/ os próximos 5 anos.

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