Você já passou horas em frente da tela do computador enviando dezenas de ordens de compra e venda ou simplesmente acompanhando a oscilação de preços das ações que compõem a sua carteira de investimentos?
Eu já!
Foi há alguns anos atrás e apenas alguns meses após o primeiro contato com um Homer Broker. Sim, o vício tomou forma rapidamente!
A minha sorte foi reconhecer e aceitar esse fato também rapidamente, logo quando se tornou nítido que o fascínio pelo mercado financeiro impactava negativamente meu desempenho no trabalho.
A minha primeira atitude foi parar de operar imediatamente.
Decorrido alguns dias, algo entre uma a duas semanas, tempo suficiente para colocar as demandas do trabalho em dia, decidi comparar o resultado que obtive operando freneticamente contra o resultado que poderia ter obtido com uma postura mais passiva de investimento.
Até aquele momento de reflexão, a minha estrategia, a matadora, era utilizar o lucro dos trades para engordar o aporte mensal numa carteira focada em dividendos, para depois poder usar os dividendos para aumentar o capital alocado nos trades, para gerar mais lucro, para aumentar ainda mais o aporte, gerando ainda mais dividendos.
Basicamente, múltiplas bolas de neve de juros compostos se retroalimentando, crescendo e me levando em alta velocidade em direção da independência financeira, não tinha o que dar errado.
Então a postura passiva de investimento mais antagônica a essa loucura toda era simplesmente não fazer trades e aportar somente o valor que podia despender do meu salário todo mês.
Sabia que adoeceria mantendo aquele volume de operações por mais alguns meses e que aquela rentabilidade viciante acabaria antes do fim do bull market, mas mesmo assim a usei para projetar o patrimônio resultante após anos de trades lucrativos.
Sabia que levaria uma vida para realizar backtest relevante de aportes mensais em todas as empresas do índice e que qualquer grupo menor de ações seria uma escolha enviesada pelos resultados já conhecidos, mas o fiz mesmo assim.
Sabia que aquela comparação era cheia de furos de lógica, mas a fiz mesmo assim.
O resultado não surpreendeu, ser um trader com ótima e consistente rentabilidade, aportando os lucros em empresas que por decisão suprema do excel manteriam o mesmo nível de crescimento de preço e de dividendos dos últimos meses por mais alguns anos seria mais lucrativo que simplesmente aportar mensalmente numa pequena seleção de ações.
Obviamente aquela montanha de cálculos não tinha implicação no mundo real, mas consegui extrair dela um insight importante. Mesmo que aquela ficção toda sobre o futuro se tornasse realidade, a diferença da rentabilidade em relação a estratégia de aportes recorrentes não seria suficiente para justificar todo o esforço, estresse e desgaste mental de horas de trading.
Então foi fácil decidir reduzir drasticamente o volume de trades e focar numa carteira Buy and Hold.
Mas aparentemente havia trocado um vício por outro. Abandonei o sobe e desce de candlesticks, mas passei dias no Excel.
Já tinha as cotações históricas de vários ativos, porque não utilizá-los para validar se houve um momento ideal para aportar no passado?
Realizei backtest de várias teorias disponíveis na internet, como aportar sempre na terceira semana do mês ou fracionar o aportes nas sextas-feiras, dias de suposta realização de lucros, mas o resultado foi mais do mesmo.
O Excel continuava me dizendo que, quando havia retorno maior, não era proporcional ao esforço adicional necessário para alcança-lo.
Continuava me dizendo que Menos é Mais, e eu finalmente o escutei.
Passei a aproveitar mais os momentos em família e me dedicar mais a minha carreira, conquistei ofertas de trabalho e promoções que me permitiram aumentar o aporte mensal.
Sigo extremamente satisfeito com a estratégia e os resultados, mas bateu saudades do Excel rs
Recentemente, com o tempo livre forçado pelo lockdown, tive a oportunidade de atualizar minhas planilhas, felizmente obtive as mesmas conclusões de antes.
A seguir, compartilho um desses backtest, acreditando que possa ser útil a algum colega que também realize aporte mensais.
O modelo desse estudo é bem simples, basicamente escolho 03 empresas, realizo a simulação de investimento mensal de $1000,00 em aportes nos preços da abertura, da mínima e da máxima de cada mês, e por fim comparo as rentabilidade obtidas. Vejamos:
Ambev (ABEV3)
Aportes de Jan/2015 a Jul/2020, totalizando 67 operações.
Lucros por ação e rentabilidade lateralizados
Minima / Abertura / Maxima
Minima
Abertura
Máxima
Weg (WEGE3)
Aportes de Abr/2015 a Jul/2020, totalizando 64 operações.
Lucros por ação e rentabilidade crescentes.
Minima / Abertura / Maxima
Minima
Abertura
Máxima
Cielo (CIEL3) - Aportes de Jan/2015 a Jul/2020, totalizando 67 operações.
Lucros por ação e rentabilidade decrescentes.
Minima / Abertura / Maxima
Minima
Abertura
Máxima
Os valores em percentual nas colunas Minima e Máxima representam os respectivos desempenhos em relação ao aporte na Abertura.
Por exemplo, o investidor que conseguisse a façanha de comprar Ambev na minima de todos os meses, teria obtido 5,75% (ou 215) mais ações que o individuo que comprou na abertura do pregão no primeiro dia útil do mês. O que representaria um preço médio 5,45% menor, o equivalente a 98 centavos. Sim, isso mesmo, 5 anos e 7 meses empenhando tempo e energia para obter menos de $1 por ação.
Já no caso da Cielo, a diferença do preço médio de compras na minima e na máxima foi superior a 10%, o que pode até parecer valer o esforço adicional, mas percebam que na rentabilidade atual (24/07) essa diferença representou apenas 5 pontos percentuais em um patrimônio que já havia perdido mais da metade do valor.
Se imaginem na pele de um investidor que aportou R$67.000,00 em um ativo, agora me digam como se sentiriam ao perceber que após uma forte valorização, o seu prejuízo foi reduzido de -R$ 35.000,00 para -R$ 31.000,00?
Eu particularmente não consigo expressar esse sentimento, mas acredito que seria algo como comemorar um pênalti defendido pelo goleiro da seleção brasileira depois que o placar já marcava 7x1 para Alemanha.
Agora é bem fácil imaginar o estado de espirito do investidor “azarado” que transformou R$64.000,00 aportados em Weg em R$188.000,00 comprando religiosamente a máxima de todos os meses do período. E aposto, que se ele soubesse que poderia ter alcançado R$225.000,00 aportando na minima, essa informação não mudaria o humor dele.
Galera, esse papo todo é apenas um exercício para relembrar que montei a minha carteira de investimentos buscando tranquilidade no futuro, não um fardo extra no presente. Nada aqui exposto tem a pretensão de alegar que “preço não importa”, que “trade não compensa”, ou definir a estratégia que todos deveriam seguir.
Não estou incentivando ninguém a comprar Weg a qualquer preço ou se livrar de Cielo o mais rápido possível. Esse estudo é a comparação dos momentos de aporte, não das empresas em si.
Muito embora, analisando as tabelas, é impossível não concluir que, para quem aporta mensalmente, investir tempo em analisar as empresas tende a ser mais lucrativo do que analisar os gráficos. É bem difícil não perceber que se esforçar para comprar boas empresas ou para não comprar as empresas ruins trará mais retorno do que tentar comprar na minima ou evitar as máximas.
Foquem no que dá retorno e que a força esteja com vocês!