Entrevista @sr_fouquet

1- Você pensa em viver em outro país? E se aqui virar uma Venezuela?

Nunca me planejei nesse sentido, é difícil falar pelo futuro distante, não fecho as portas a esta opção, mas é um last resort. Se virasse uma Venezuela, nesse caso não teria opção, mas não acredito que isso vá acontecer. Digo isso pois a Venezuela não é apenas uma grande crise financeira como a Argentina, é um regime com contornos soviéticos apoiado pelas forças armadas. No Brasil, seria mais fácil as forças armadas apoiarem novamente um regime anti-comunista como foi no passado. Mas podemos virar uma Argentina e não é difícil, basta mais alguns governos consecutivos do PT e estaremos lá. Por outro lado, isso seria assumir uma inércia muito grande das classes mais ricas da sociedade, então por enquanto estou pagando para ver, mas entendo que o risco é real. Se apenas o Haddad tivesse sido eleito e não feito a reforma da previdência conforme ele prometeu, já seria meio caminho andado. Agora principalmente se os impostos começarem a virar uma forma de expropriação, consideraria emigrar sim, mas pelo menos eu teria tempo de fazer as malas.

2- Tem uma idade já em mente para viver só da renda de seus investimentos?

Dentro das minhas expectativas e padrão de vida atual, acredito que poderia depender só da renda da bolsa entre os 40 e 50 anos. Sei que é uma estimativa grosseira, mas se irmos na média de 45 anos, daria uma boa estimativa, então mais uns 10 anos pela frente.

3- Venderia seu negocio para se dedicar a outra coisa?

Vou dividir sua pergunta em duas partes, primeiro em relação a vender meu negócio e segundo a se dedicar a outra coisa.

Eu venderia apenas se pudesse crescer bastante primeiro, pois quando se vende um negócio pequeno, o valuation é totalmente diferente de um negócio grande ou mesmo médio, mesmo que a TIR dos seus investimentos seja igual. Um negócio pequeno vão querer um retorno de 3% a.m., um negócio médio você já calcula conforme taxa livre de risco, prêmio de mercado etc. Portanto só pensaria em vender pelo preço certo. Também me sinto privilegiado por estar ligado ao agronegócio, é algo que sempre deu certo no Brasil desde os primeiros moinhos de cana movidos a mão de obra escrava.

Agora tirando a parte da venda, a que eu me dedicaria? Não sei, a vida sempre apresenta um caminho, mas se fosse para dizer a primeira coisa que me vem a cabeça: compraria um bom pedaço de terra para lucrar com os arrendamentos e iria viver o dia-a-dia no campo.

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1 - Você comentou que abandou a faculdade, hoje não possui formação?

Afirmativo, não.

2 - Adquire seu conhecimento através de livros e conversas com pessoas?

Sim, livros (mas vamos considerar a escrita em geral) é a forma mais segura para formar um conhecimento aprofundado sobre qualquer tema, sempre foi assim desde a Grécia e o Egito. As conversas e a experiência de vida em geral, também contribuem bastante, mas são como as paredes e o teto da sua casa, a fundação (que é o conhecimento básico) precisa estar bem formado.

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Muito legal sua história, obrigado por compartilhar seu conhecimento nesse espaço.

  1. Qual sua expectativa de rendimento da sua carteira de longo prazo?
  2. Qual seu rendimento passado da carteira?
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Quando comecei a investir e perceber que conseguia obter retornos, montei uma planilha com sistema de cotas, mas por desorganização durou muito pouco. Acabei desistindo de manter este controle e só fui ter novamente quando migrei meus investimentos para a XP no final de 2018, isso porque eles já fazem essa conta automaticamente para você. Então não sei os números exatos antes de 2019. Sei que 2019 foi 26% e 2020 foi 20%. Antes disso, posso calcular ou estimar razoavelmente cada investimento, em renda fixa ou variável, mas isoladamente.

Minha expectativa eu dividiria em duas partes. A primeira seria um mínimo para que eu possa fazer retiradas sem consumir patrimônio, isso seria 4% acima da inflação, ou cerca de 7% ou 8% dentro das expectativas atuais. Agora como tenho uma gestão ativa, compro e vendo investimentos conforme acho adequado, espero uma rentabilidade maior, colocaria um benchmark de 12% acima da inflação, 15% ou 16% no cenário atual.

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sr_fouquet

Desculpe-me a bateria de dúvidas.

Como você definiria seu modo de investimento ? Costuma operar diariamente, semanalmente, mensalmente?

Tenho a mesma posição do Buffet em relação ao ouro (ativo que nao gera caixa), qual veículo que você usa para investir em ouro? Acredita que os EUA vão derreter sua dívida via inflação sem subir os juros (principal concorrente do ouro)? Náo seria melhor investir em uma mineradora de ouro como aura33 a queridinha dos gestores… Já analisou esta empresa?

Qual sua visão sobre investir IVVB11?

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Como você definiria seu modo de investimento? Costuma operar diariamente, semanalmente, mensalmente?

Meu método é primeiro realizar um filtro macro, depois seleciono alguns setores e empresas para estudar, se alguma se sobressair, pode demorar alguns dias ou vários meses, eu compro e não costumo fazer mais nada, a não ser aumentar posição quando é interessante e ler os relatórios. Tenho essa idéia de holding, então não faço muitas compras e vendas, procuro ver essas movimentações mais como um jogo de xadrez. Opero uma vez ou menos por mês.

Tenho a mesma posição do Buffet em relação ao ouro (ativo que nao gera caixa), qual veículo que você usa para investir em ouro?

Quem gera caixa para o ouro é o Tesouro Americano:

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Eu compro ouro diretamente na B3: OZ1D (250g), OZ2D (10g), já me convenceram que o GOLD é uma opção mais barata, mas eu gosto da intimidade de contar as gramas e poder pedir resgate se quiser.

Acredita que os EUA vão derreter sua dívida via inflação sem subir os juros (principal concorrente do ouro)?

A questão mesmo é se eles continuarão a fazer isso, pois de fato já estão fazendo agora, calculadamente ou não. É provável que, se a inflação se mostrar persistente e não for apenas o choque de oferta que estão falando, deixar que isso aconteça seria menos doloroso para o Tesouro Americano (e para os mercados também) do que uma alta acentuada dos juros, então, neste caso, sim, acredito.

Náo seria melhor investir em uma mineradora de ouro como aura33 a queridinha dos gestores… Já analisou esta empresa?

Minerar ouro é bem diferente de manter estoques de ouro e envolve bem mais riscos, é um negócio de commodities que eventualmente depende do preço do ativo, mas também de uma infinidade de fatores. Não é um processo viável sob quaisquer circustâncias, não estou por dentro para citar muitos exemplos ou detalhes, mas imagine uma mina que precisa processar 1 tonelada de material estéril para cada 25g de ouro e tem uma vida útil média de 10 anos, então é preciso ter uma prospecção bem ativa sabendo que a concorrência por direitos minerários é intensa. Não estou por dentro da AURA, mas não tem porque fugir a essa regra, considerando essas características, eu gostaria de uma empresa de grande porte e com a maior diversificação geográfica possível. Atendendo a esses critérios, pode ser uma boa, mas tenho minhas suspeitas que algumas sul-africanas/inglesas, que tem BDRs na B3, podem estar a frentes nestes quesitos.

Qual sua visão sobre investir IVVB11?

Vejo como a melhor opção para quem não quer se envolver no processo, é muito melhor do que investir em fundos de gestão ativa que irão cobrar uma fortuna de taxas e muito mais defensivo do que investir que BOVA, que não passa de uma carteira de ações razoavelmente diversificada. Basta ver o histórico contra a CAFI, é difícil bater o S&P500. Por outro lado, como disse no exemplo do ouro, é um investimento que tira um pouco da intimidade de investir, então isso pode ser ruim em alguns casos. Por exemplo, será que para alguém que quer manter um investimento de LP, não é muito mais fácil mentalmente liquidar sua posição em IVVB do que em determinada empresa? Pode fazer todo o sentido matemático e ainda assim não ser a melhor opção prática.

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Saudações, Sr. Fouquet.

Primeiramente, gostaria de te agradecer por ter me orientado/ajudado no início da minha trajetória, sendo sempre cordial e solícito respondendo minhas mensagens privadas, obrigado mesmo pois me ajudou bastante.

Pois então, alguns já perguntaram sobre independência financeira, vejo que sua carteira é bastante enxuta, combina ações de crescimento com ações de dividendos, além do Ouro como uma espécie de proteção e você não possui FII. Nesse sentido, você pretende formar um patrimônio consistente via ações e no futuro migrar uma parte do seus investimentos para FIIs, Tesouro Com cupons Semestrais e priorizar as ações ditas vacas leiteiras?

Abraço.

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Primeiramente, gostaria de te agradecer por ter me orientado/ajudado no início da minha trajetória, sendo sempre cordial e solícito respondendo minhas mensagens privadas, obrigado mesmo pois me ajudou bastante.

Obrigado pelas palavras, fiquei feliz em ajudar no que era possível, sempre bom trocar informações. Mas tenho acompanhado seu blog e posso dizer que, sendo você novo na bolsa, tendo passado já o crash de 2020 e se mantido praticamente um xiita na sua filosofia, você tem ido melhor do que muitos. Nem sei se estou em posição de dar parabéns, mas parabéns de todo jeito.

Pois então, alguns já perguntaram sobre independência financeira, vejo que sua carteira é bastante enxuta, combina ações de crescimento com ações de dividendos, além do Ouro como uma espécie de proteção e você não possui FII. Nesse sentido, você pretende formar um patrimônio consistente via ações e no futuro migrar uma parte do seus investimentos para FIIs, Tesouro Com cupons Semestrais e priorizar as ações ditas vacas leiteiras?

Sobre a composição da carteira, isso pode (e vai) depender bastante das minhas expectativas (ou falta de) em relação à situação fiscal do país, aumento de inflação, fuga de capitais, risco país etc. Se morasse nos EUA, talvez pudesse contar com a idéia de que tudo acaba bem, mas, como se diz, o Brasil não é para amadores. Digo isso, pois já até comentei acima, que meu planejamento agora é focar em BDRs e Ouro.

Por outro lado, sendo mais direto na sua pergunta, minha carteira teve um payout de 38% nos últimos 12 meses, acredito que este número deva subir para 40-50% com a normalização dos bancos e algumas surpresas positivas que espero. Se eu mudasse muito minha estratégia, talvez conseguisse 60-65%? Seria difícil conseguir mais sem concentrar em poucas ações. Ou seja, uma carteira razoavelmente diversificada entre ações de valor e crescimento aparentemente não terá um payout muito menor do que uma mais focada em dividendos, mas possivelmente terá um crescimento maior destes mesmos dividendos. Então acho que é preciso pesar se vale mesmo a pena focar somente em dividendos.

Quanto a FIIs, minha abordagem é mais de renda fixa, não compararia com ações, até porque o preço deles tende a acompanhar as mesmas informações dos títulos de RF. O Tesouro Direto é uma boa em momentos de crise, pois garante um bom lucro com risco limitado. A era Dilma terminou justamente com grandes oportunidades nesse tipo de investimento. Mas no cenário atual, tenho mantido apenas títulos de curto prazo que considero equivalência de caixa.

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@sr_fouquet assim como os colegas do fórum, agradeço imensamente pelas valiosas contribuições.
Aproveito para pedir algumas questões:

  • Tem algum setor que não investe ou não investiria de jeito nenhum?
  • Quando investe em alguma empresa leva em considerações princípios éticos/morais? Ex.: VALE (problema com as minas, etc)
  • Quais setores considera os mais perenes para longo prazo?

Valeu!

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@sr_fouquet

Parabéns! É admirável seu conhecimento sobre os temas abordados no fórum.

• Se tivesse que investir R$ 10 mi neste momento, como ficaria a carteira?
• De que maneira obteve educação em língua inglesa? Continua estudando?

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Tem algum setor que não investe ou não investiria de jeito nenhum?

Pode parecer dissonante com o que falei até agora, mas o único setor que eu não investiria é agricultura, tirando as atividades mais conservadoras como madeira, gado, café etc. Conheço boas pessoas que estão neste negócio durante toda a vida e uma multidão de novatos que são chutados de ano em ano. Todos os produtores já amargaram perdas invarivelmente. Comparo a safra às vezes a um cassino, o preço do grão é cíclico, você depende da chuva, um erro de cálculo pode destruir sua produtividade. Todo ano colocam uma ficha lá e vêem o que sai. Macroeconomicamente funciona como um relógio, individualmente é uma loteria.

Quando investe em alguma empresa leva em considerações princípios éticos/morais? Ex.: VALE (problema com as minas, etc)

Não neste sentido, se uma empresa existe e exerce uma função social, é porque é necessária, mesmo que cause dano, se há algo que eu discorde, isto deve ser mudado através da lei a meu ver. Vamos supor que eu possuísse ações de um hospital e amanhã o aborto fosse legalizado, sou contra o aborto, mas então este hospital até por necessidade passasse a oferecer isto aos pacientes. Vou deixar de investir no hospital? Não, vou votar num candidato que lute pelo que eu acredito.

Quanto a acidentes, eles acontecem em qualquer empresa. A Vale é uma empresa gigante e seu acidente foi, portanto, gigante, ela está sendo submetida ao julgo da lei, pagará indenizações, fará reparos. Por mais trágico que seja, não vejo questão moral aí. Talvez tenham havido erros humanos, pessoas que precisem ser responsabilizadas, mas tudo faz parte do que instituímos como Justiça.

Tenho um crivo maior, sim, em investir em empresas onde a administração ou a própria cultura da empresa, principalmente em estatais, tenham comprometimentos éticos mais sérios. Este tipo de empresa pode não priorizar o acionista mas sim o corruptor que alimenta os parasitas que ali habitam. Neste caso, a função social da empresa pode passar a ser até um objeto secundário, como foi no caso da Petrobrás. Estas considerações, no caso, são importantes para mim.

Quais setores considera os mais perenes para longo prazo?

Há muitos setores que são perenes como alimentos, saúde, mas não podemos deixar de levar em consideração que mesmo sendo necessidades que sempre existirão, a forma com que elas são demandadas pelas sociedade pode mudar. O modelo de laboratórios de hoje pode não exisitir daqui a 100 anos, embora os laboratórios ou a indústria de diagnósticos sempre existirá. As melhores empresas terão que se adaptar a estas mudanças e agir primeiro para não perder mercado. Mas há setores que não mudam, que são o que são desde a fundação da Companhia das Índias, portanto se for para eleger o setor mais perene de todos, eu diria que é o setor de seguros.

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Se tivesse que investir R$ 10 mi neste momento, como ficaria a carteira?

O mais óbvio é que eu replicasse minha própria carteira.

Mas 10 milhões é muito dinheiro, então não é o tipo de consideração que daria para fazer em 2 minutos. Principalmente se for para fazer agora, levando em conta os preços atuais. Talvez esperasse um pouco para comprar o ouro ou fizesse uma reserva para investir em BDRs com o dólar mais baixo, talvez investisse em algo fora da bolsa. Se for para dar uma resposta objetiva, seria a mais metódica de replicar minha carteira.

De que maneira obteve educação em língua inglesa? Continua estudando?

Eu tive uma base no colégio, que serviu para alguma coisa mas não muito. Depois decidi estudar por conta própria, planejei uma viagem para ficar estudando 1 mês em Londres e nos 6 meses que antecederam, me dediquei ao máximo. A necessidade é sempre o que mais ajuda. Mas o principal é entender (nem todo mundo entende isso), que um segundo ou terceiro idioma, por mais que você tenha que colocar no currículo etc, não é algo que se adquire e ponto final. É um progresso contínuo e um aprendizado constante. Sempre leio portais de notícia em inglês, leio livros em inglês, audiobooks, procuro exercitar ao máximo. Poderia até colocar lá que sou proficiente, mas se cair uma obra de Shakespeare nas minhas mãos, vou ler uma página por hora com o dicionário do lado. Certa vez tentei ler o Don Juan de Byron e cheguei a honesta conclusão de que era impossível.

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Muito interessante a sua trajetória, amigo. Parabéns pelas suas considerações e observações, pois são muito úteis. Vou fazer 60 anos agora e já tenho quase 40 anos de mercado, mas concordo com as suas ponderações. Não dá para prever o futuro, mas existem formas de nos prepararmos para ele, seja qual for. Abraço

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Ótima ideia! O Sr. Fouquet realmente tem contribuído bastante com o fórum, sempre com comentários ponderados e conteúdo de qualidade. Vai ser interessante conhecer um pouco mais sobre ele fora dos tópicos de investimentos também.

As perguntas sugeridas ficaram bem bacanas, abrangem várias áreas da vida, o que dá um retrato mais completo da pessoa. Acho que, além dessas, também seria legal incluir:

  • Como começou a se interessar por investimentos?
  • Qual foi seu maior acerto e maior erro no mundo dos investimentos?
  • Tem alguma filosofia de vida que segue ou um conselho que sempre leva com você?

Vamos dando tempo pro pessoal mandar suas perguntas por aqui, e quando estiver legal, é só consolidar tudo e deixar o Fouquet brilhar na entrevista.

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Vou aproveitar também!
Gostei bastante dessa resposta, pois você quis ir além do “fácil” e mostrou que as vezes o fácil é o que realmente tem mais sentido.

Aproveitando o tema de investimento no exterior e sua experiência com isto:

  1. Qual sua opinião em relação às tarifas do governo Trump?
  2. Acredita que as medidas terão os efeitos esperados no longo prazo para combater o crescimento da China?
  3. Como estas tarifas podem impactar o seu negócio no calcário?
  4. Quais ativos que você investe no exterior?

Pergunto porque, além da curiosidade, estou buscando ter alguns ativos no exterior para sair um pouco dos investimentos no Brasil e gostaria de uma opinião de maior experiência com estas situações atípicas.

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Excelente entrevista.
Considerando que a entravista já tem quase 4 anos, eu gostaria de saber se existe algum ponto da entrevista que o sr_fouquet pensa diferente hoje e quais seriam. Gostaria de parabenizar pela tese bem sucedida do ouro e saber se teve alguma grande alteração na carteira de investimentos, e também, em relação aos seus clientes da agronegócio, como estão em épocas de taxas de juros tão altas que não se viam a quase 2 décadas.

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Obrigado pelas palavras. Revidendo as entrevistas:

Comecei a me interessar por investimentos aos meus 18 anos e realmente embarquei um ou dois anos depois ao ler o “Investidor Inteligente”. Esse foi um período onde começava a encarar a realidade de ter que me manter, observava minha família passando por problemas na época e a necessidade de buscar uma solução era real. Tinha vontade de empreender e compreender empresas era o primeiro passo. Mas logo o gosto acabou superando a necessidade e realmente se tornou um pilar na minha vida.

Meu maior erro foi desprezar a diversificação e não me preparar para o imprevisível. Meu maior acerto foi retificar essa estratégia e manter a consistência ao longo do tempo.

Algumas pessoas entram no mundo das finanças por ganância ou absoluta necessidade, o resultado acaba sendo mais importante do que o processo. Mas esse tipo de visão vai sempre limitar alguém no potencial que pode alcançar. Os melhores resultados que obtive na vida real foi sempre assumindo e compartilhando os riscos. Você precisa gostar do capitalismo, ou vai ser engolido por ele.

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Tarifas de Trump. Tema polêmico. Existe uma dualidade aqui entre objetivo político e efeito econômico, são coisas distintas. Do ponto de vista político, eu vejo um grande blefe que é um ponto de partida para a negociação de termos mais favoráveis. Historicamente, os EUA se destacaram mundialmente por ter um dólar relativamente desvalorizado em comparação à libra esterlina por exemplo. Isso levou ao grande processo de industrialização dos EUA no século XX. Ao final da década de 90, esse modelo começou a se esgotar e os centros industriais se moveram para México, China, Vietnã mais recentemente. Eu vejo como uma visão um pouco arcaica embora o debate político tenha um fundamento que as gerações mais novas às vezes não estudaram ou não tem vontade de saber. O MAGA é uma visão nostálgica e acho que os EUA se estabeleceram como uma potência tecnológica, que é o tema que deve dominar o século presente. Do ponto de vista econômico, as tarifas do Trump são uma distorção direta da ordem natural do mercado, no fim do dia você está punindo setores que são competitivos globalmente só porque outros setores perderam espaço. Quem paga isso é o americano e é até curioso que eu li gente que ficou confusa porque tiveram que pagar uma tarifa de um produto que vinha do Canadá. São tarifas de exportação, mas quem paga é o importador, muita gente apoiou ou apóia isso sem notar essa simples realidade.

Os efeitos esperados no longo prazo se resumem na perda de competitividade e eficiência dos produtores americanos, todos os outros efeitos são imprevisíveis. Elas podem atrasar ou dificultar o avanço chinês em setores específicos e aí se, ao mesmo tempo, investem pesado em P&D, infraestrutura, reindustrialização, pode surgir uma vantagem nesse sentido. Mas o custo disso vai cair como um monobloco em toda economia americana.

A longo prazo o prospecto é positivo. Dependemos de agricultores e o Trump já está jogando 28 bilhões por ano para suportar esse efeito colateral por lá desde o primeiro embate anos atrás. Ainda assim a China tem preferido uma estratégia de longo prazo mais segura com os exportadores brasileiros. Então, mesmo com o preço da soja tendo regredido bastante se comparado ao período da pandemia (e isso impacto em preço diretamente para nós), as expectativas de volume são de crescimento no longo prazo.

SPY, GLD, Treasuries diversificadas. Estamos vivendo uma situação atípica e perigosa. Se nada for feito do ponto de vista fiscal, em 8 a 10 anos caminhamos para o colapso do Plano Real. A triste realidade é que hoje apenas um ajuste fiscal nos dois sentidos, aumentar receitas e reduzir gastos, vai ser realmente capaz de reverter este quadro. Reservas internacionais podem ser uma salvação se o pior se concretizar.

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Eu precisaria reler tudo, mas não acho que houve nenhuma mudança fundamental. Houve mudanças de portfolio, adequações, reavaliações do presente e do futuro, mas minhas premissas não mudaram muito para falar a verdade. De fato o ouro foi um destaque, ainda lembro quando $2000/oz pareciam impossíveis e hoje está em $3300.

O agronegócio no Brasil é um setor subsidiado com taxas de juros mais baixas. Ainda assim, maiores do que na parte do mundo. Mas os clientes costumam ter um nível de sofisticação bem alta em termos de funding e tem níveis de produtividade igual ou superiores aos produtores americanos. Então é como diz o ditado, em se plantando, no Brasil, tudo dá. Mas tenho visto já problemas em setores próximos como o de transporte, que trabalha com endividamento pesado e margens apertadas. Agricultura em geral costuma ser muito local, então às vezes estão todos reclamando porque não choveu, porque choveu demais, choveu cedo ou choveu tarde. Mas se saírmos um pouco dessa mentalidade de dia a dia, acho que é o setor mais bem posicionado para lucrar com essa guerra comercial. Mesmo sem ela, tem tudo para seguir crescendo.

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