IPO - novos registros de companhias abertas na CVM

@aafm @cadives @phmos ,

IPOs geralmente são bem caras mesmo. Mas, quando a maior parte dos recursos (Ofertas Primárias) vai pro caixa da empresa pode ser interessante…

Eu costumo pegar os dados dos prospectos e calcular os fundamentos. Seguem abaixo:

  • Alphaville (AVLL3):

Preço R$ 44,65 (média entre R$ 41,50 e R$ 47,80)
P/VP antes: 1,59
P/L antes: negativo

P/VP depois: 1,32
P/L depois: negativo
PSBe: R$ 39,48 (-11,58%)
FCD ultra-otimista com 3% de perpetuidade, 8% taxa de desconto e 25% de taxa de crescimento para os próximos cinco anos (simulando um lucro com 10% de margem líquida): R$ 29,26 (-34,46%)

Negativo: Eu dei uma olhada nos últimos resultados no prospecto e é um show de horrores. Pra ser sincero, eu não entendi direito o motivo pois, vendo de fora, eu achava que era uma empresa muito saudável. Eu tenho grande admiração pelo Alphaville e não imaginava que podia dar tanto prejuízo. Pelo que vi o principal motivo parece ser a despesa financeira e não tenho certeza que esta oferta será suficiente para sanar os problemas financeiros da empresa.

Positivo: Oferta apenas primária e todos os recursos irão para a empresa: 40% para pagamento de dívidas; 10% para capital de giro; e 50% para despesas gerais. Os fundos continuarão acionistas da empresa com a mesma quantidade de ações, ou seja, devem acreditar no negócio ainda, mas o mercado ficará com metade das ações agora. A empresa teria um valor de mercado em torno de apenas 1 bilhão de reais, tendo um landbank com potencial de venda de R$ 17 bilhões, sendo que 62% é de expansões de loteamentos existentes ou áreas próximas (menores custos pra lançar).

Sinceramente, eu acho 2 bilhões (1 bi de valor de mercado mais quase 1 bi de dívida líquida) barato para uma empresa com a marca do Alphaville e com este landbank, mas vou ficar de fora porque parece um “case” de turnaround e eu não disponho de tanto capital para aportar em turnarounds no momento…

  • Wine (WNBR3):

Preço R$ 9,50 (média entre R$ 8,50 e R$ 10,50)
P/VP antes: 10,38
P/L antes: 39,33

P/VP depois: 2,32
P/L depois: 65,56
PSBe: R$ 6,61 (-30,44%)
FCD ultra-otimista com 3% de perpetuidade, 8% taxa de desconto e 25% de taxa de crescimento para os próximos cinco anos: R$ 7,35 (-22,66%)

Maior parte da oferta é primária (57,7 mi de ações contra 16 mi na secundária). Parece caro (como quase todas as IPOs) e está precificando um crescimento médio anual acima de 40% para os próximos 5 anos. Quase 60% dos recursos serão usados para aquisições, cerca de 25% em investimentos em marketing e logística e cerca de 15% em expansão das lojas e tecnologia. Empresa com endividamento líquido abaixo de 10 milhões.

  • Enjoei (ENJU3):

Preço R$ 12,00 (média entre R$ 10,25 e R$ 13,75)
P/VP antes: 22,27
P/L antes: negativo

P/VP depois: 3,94
P/L depois: negativo
PSBe: R$ 2,13 (-82,22%)
FCD ultra-otimista com 3% de perpetuidade, 8% taxa de desconto e 50% de taxa de crescimento para os próximos cinco anos (simulando um lucro com 10% de margem líquida): R$ 3,71 (-69,09%)

O endividamento é inferior a 7,5 milhões de reais. A oferta é quase metade primária e metade secundária. Destinação dos recursos: 30% expansão da marca; 20% políticas comerciais; 25% expansão para desenvolvimento do produto; e 25% soluções fintech.

Não achei caro não. Pra mim é quase um assalto a mão armada! Está precificando um crescimento médio de 110% ao ano nos próximos 5 anos (isto simulando um lucro com 10% de margem líquida, porque tá dando prejuízo a empresa). Realmente dá enjoo de ver múltiplos tão esticados (só a Track & Field que achei ainda mais cara), mas o logo da empresa é bem legal… :rofl:

  • Méliuz (CASH3):

Preço R$ 11,25 (média entre R$ 10,00 e R$ 12,50)
P/VP antes: 29,39
P/L antes: 40,10

P/VP depois: 4,83
P/L depois: 49,89
PSBe: R$ 5,79 (-48,49%)
FCD com 3% de perpetuidade, 8% taxa de desconto e 25% de taxa de crescimento para os próximos cinco anos: R$ 11,43 (+1,62%)

Cerca de 45% é oferta primária e 55% é oferta secundária. A empresa tem caixa líquido, ou seja, o endividamento líquido é negativo. Os recursos serão usados para: 50% ampliação de participação nos mercados de marketplace e serviços financeiros (incluindo lançamento de novos produtos e funcionalidades) e 50% para aquisições.

Olhando os últimos resultados da empresa fica nítido o potencial de escalabilidade dos negócios dela; é uma coisa linda de se ver: de 2017 para 2018 as receitas líquidas aumentaram em 20 milhões e as despesas operacionais cresceram 10 milhões; de 2018 para 2019 as receitas líquidas subiram 40 milhões quase e as despesas operacionais aumentaram 20 milhões; do 1S2020 para o 1S2019 as receitas aumentaram em 20 milhões e as despesas em 6 milhões…

No patamar de R$ 11,25 temos uma precificação de 36% de crescimento médio dos lucros nos próximos 5 anos, o que eu acho que deve ser superado pela empresa com folga se continuar neste ritmo.

Eu que até hoje só entrei em uma IPO (Banrisul há quase 15 anos atrás) e que sempre acho todas empresas caras (incluindo Petz que muita gente aqui entrou) estou 99% decidido a entrar nesta IPO. Mas tenho ainda aquele 1% de juízo que quer saber de vocês o que acham da empresa como clientes (se é que já usaram o app e/ou a ferramenta) e se enxergam potencial neste negócio?

Geralmente eu fico com um pé atrás em relação à capacidade das empresas brasileiras de tecnologia conseguirem justificar altos P/Ls, mas além deste estar em “apenas” 50, a empresa tá realmente demonstrando uma escalabilidade muito boa de 2017 pra cá.

De todas as cerca de 30 empresas que estudei as IPOs neste ano após o Covid, com certeza a Méliuz foi a “melius” que encontrei (mas falta estudar a Rede D’Or ainda que tenho muito interesse).

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