Stock Picking - Métodos, Opiniões e Ajuda

Stock Picking consiste em fazer uma seleção de ativos com o intuito de performar acima do mercado ou benchmark. Ao contrário de seleções passivas, o stock picking é ativo e passa por um processo de estudo, pesquisa, teorias, cálculos e decisão.

Assim como eu, vejo que a grande maioria das pessoas deste fórum opera desta maneira. No meu caso, sinto muita dificuldade em selecionar empresas, principalmente em setores que gosto muito ou possuem muitas empresas: de energia, financeiro, seguros. Outras vezes não sei qual abordagem correta para analisar um setor ou modelo de négocio (por exemplo, commodities), ou até fazer uma análise fria da minha carteira. Já recebi alguns feedbacks sobre pulverização, carteira concentrada, dentre outros.

Resolvi criar este tópico para discussões e dúvidas mais focadas no processo de seleção de empresas, pois acredito que não exista nenhum outro tópico sobre o assunto.

Vou iniciar o tópico com uma pergunta que faço para muita gente:

Gosto do setor de energia, em especial EGIE, TAEE, ENBR, ALUP, EQTL, NEOE, TRPL. Tenho muita dificuldade em escolher apenas 2 para a minha carteira. Qual o processo de decisão de vocês neste cenário?

Alguns membros já me responderam e me ajudaram (muito) a selecionar TRPL e ENBR. Porém, sigo indeciso e revendo as outras empresas.

Possuo muitas outras perguntas, porém vou deixar para o futuro.

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Eu havia criado uma planilha de FCD e inseri um formulário com perguntas quase simbólicas:

Data de constituição
Segmento de listagem
3 maiores acionistas e participação de cada um deles
Free float
Presidente do Conselho
Diretor Executivo

No setor elétrico é difícil uma empresa ter uma vantagem competitiva grande em relação a outra, na maioria das vezes vão ter todas os seus prós e contras. Podem acabar pesando outros fatores como os citados acima, considerando as implicações que cada um deles pode ter. Uma TIET deve ser vista com os mesmos olhos de uma ENEV, empresa recém-reestruturada? A EQTL com seu ótimo histórico de turnarounds pode ser comparada com qualquer distribuidora? Uma empresa que tem estatais ou o governo no quadro de sócios merece o mesmo tratamento de uma que não tem?

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A grande questão é quanto colocar de prêmio nesses pontos.
Provavelmente as estatais vão estar mais baratas, as com melhor rentabilidade e melhor histórico de execução mais caras.
Mas a grande questão é precificar esses fatores de certa forma mais qualitativos.
Depende também do objetivo, uma coisa é escolher a empresa que você gosta mais, outra é tentar descobrir qual vai ter a maior valorização em um horizonte de 1, 2, 5 anos.

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Boa resposta. Tomei algumas notas:

  • EGIE - Novo Mercado, Free float ok, 100% tag along, Controladora 69% ON
  • TAEE - Nivel 2, free float bom, 100% tag along, governo 37% ON
  • ENBR - Novo mercado, free float bom, 100% tag along, Controladora 50%
  • ALUP - Nivel 2, free float bom (PN), 100% tag along, Controladora 75%
  • EQTL - Novo Mercado, free float bom, 100% tag along, Majoritario 10%
  • NEOE - Novo Mercado, free float ruim, 100% tag along, Controladora 50% Governo 30%
  • TRPL - Nivel 1, free float pessimo (ON) bom (PN), 0% tag along PN, Controladora 90% CEB 10%

Realmente, fazendo essa comparação direta nós podemos eliminar algumas empresas aqui. A principio, TAEE (governo ON), NEOE (free float ruim e governo ON) e TRPL (0% ON no free float). Se existe um empate, esse é um bom modo de desempatar.

Só acho engraçado que dessas eliminadas, tanto TAEE quanto TRPL estão entre as minhas favoritas. Inclusive, TRPL tá dando show na minha carteira.

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Esta é minha dificuldade: como precificar estes pontos. Na minha última batelada de estudos eu decidi focar nas empresas que estão expandindo sua operação e que vão gerar valor no futuro, ao invés de ficar apenas distribuindo dividendos…

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Eu separo as elétricas pelos 3 setores… é díficil dizer que geradoras, transmissoras e distribuidoras estão expostas aos mesmos riscos e tem as mesmas avenidas de crescimento.

Em geral, quando começo a fazer stock picking é porque algo me chamou a atenção… Alguma reportagem, algum múltiplo descontado, ou mesmo a curiosidade de “saber como funciona esse negócio”.

Eu pego então e começo analisando a apresentação institucional. Pra mim é aonde você vê mais ou menos tudo que a empresa tem e também o que ela planeja para o futuro. Pra isso eu gosto de comparar com os pares, mas nem toda empresa tem. É óbvio que muita coisa é propaganda, mas dá pra ter uma ideia de pra onde o management quer guiar a empresa.

Se eu gostei do que vi, vou olhando pro passado e vejo se a empresa tem conseguido cumprir o que promete. Ela entregou alguma coisa até aqui. Eu não sou tão fã de turn around, então se a empresa não tem cumprido eu meio que descarto.

Se gostei de tudo, fico observando a empresa e tento analisar se ela está cara ou barata. Em geral olho algo próximo do indice PEG do Peter Lynch, que compara o P/L com o crescimento que a empresa vem tendo. Eu não faço meu FCD, porque descobri que não sou tão bom em escolher as premissas, mas acabo comparando com algumas casas de análises.

Eu pessoalmente não levo a sério a preocupação de não pulverizar. Eu me sinto mais a vontade com um número maior de empresas, porque na minha cabeça mesmo que você conheça muito a empresa, muitas coisas podem acontecer que estavam fora do Radar. Eu só cuido que tenha um número de empresas e Fiis que consiga acompanhar, e que nenhuma posição seja tão pequena a ponto de não fazer sentido. Mas acho que isso é uma decisão que depende de como você se sente mais confortável.

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Se você não quer olhar muito para os dividendos, então uma opção é o Peter Lynch Fair Price (ou algo parecido) que está descrito no livro O jeito Peter Lynch de investir.
Basicamente, é (DY+Crescimento do Lucros)/(P/L), naturalmente todos na mesma base temporal. Anual ou quinquenal por exemplo.
Segundo o que vai no livro esse parâmetro tem que ser no mínimo igual a 1, mas ele indica que é melhor ser de 2 para cima.
Tenho feito muitos planilhamentos e já fiz uns testes ainda dividindo por (P/VP).

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O critério de ser ou ter estatal ou governo não precisa necessariamente ser eliminatório. É importante analisar bem antes de colocar dinheiro em qualquer coisa ou simplesmente eliminar uma alternativa que pode ser muito boa. Dou três exemplos para me explicar melhor:

Banco do Brasil, banco da União, apesar de terem surgidos algumas acusações recentemente, é reconhecido historicamente pela boa gestão e pela competitividade com bancos privados.

IRB, IPO da união, valorado como melhor resseguradora do mundo, hoje está atolado num lamaçal de fraudes contábeis e práticas obscuras.

Hapvida, empresa 100% privada, muito bem vista pelo mercado, mas não precisa procurar muito para encontrar uma série de obscuridades nos balanços, como compras aparentemente injustificáveis de mídias locais e ligação com políticos corruptos.

Não existe métrica perfeita, preparei essa tabela para tentar ponderar as opções. Fiz a separação nos 3 segmentos pelo que julguei ser a operação mais relevante, qualquer engano, favor desconsidere:

Alavancagem operacional é a relação entre o Lucro Bruto e o Lucro após as despesas comerciais e administrativas, é uma medida de eficiência, quanto menor, melhor.

No setor de geração, selecionei primeiro as empesas de comando estatal e que possuiam baixa participação de outros acionistas com direito a voto. São empresas sob controle total ou quase total do Estado. Caem Eletrobras, Copel e Cemig. São ruins? Podem valer uma aposta na privatização, mas aí a análise deixa de ser comparativa e passa a ser pontual.

Segundo ponto, empresas onde o acionista controlador possue mais de 2/3 do Capital Votante. Este é o quórum para reforma do Estatuto Social. Demonstra que um único controlador detém um poder assimétrico sobre a empresa. É necessariamente ruim? Não, a AES acabou de evitar uma aquisição hostil pela Eneva. Mas é algo que precisa ser levado em conta. Precisa passar esse controlador no pente fino. Aqui a lista não é pequena. Engie, CESP, AES Tiete, TRPL e Alupar.

No critério de eficiência, é importante analisar por segmento. Em geração, temos empresas que se destacam, empresas médias e abaixo da média

Geração:
Abaixo: Eletrobrás. Eneva, Cesp
Média: Copel, Eneva, CPFL
Acima: Engie, AES e Omega

Distribuição:
Abaixo: Light
Média: Equatorial, ENBR, NEOE,
Acima: Cemig
Muito provavelmente CMIG se destaca porque é mais mista do que as outras, talvez não haja vencedores, mas um perdedor, a Light.

Transmissão
Tudo muito próximo da mediana.

Melhores empresas para APROFUNDAR com base nesses critérios?

Em geração: CPFL, AES, Engie e Omega (Ômega tem o bônus societário e eficiência operacional)
Em distribuição: EQTL, ENBR e NEOE (NEOE e ENBR são as que tem menos minoritários, EQTL a que tem mais)
Em transmissão: As três (mas TRPL é 100% comandada pela ISA, e Alupar pela Guarupart, nesse ponto, a presença de Cemig na Taesa parece bem menos nociva.)

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Interessante. Você tirou essa fórmula do livro? Pois eu conheço a fórmula exatamente oposta. Fórmula de PEGY: P / L / ( G + DY ). Idealmente tem que estar entre 0 e 1.

Aliás, eu tenho uma planilha assim também hahahha. Fiz ha um tempo pra brincar.

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Que aula! Parabéns e muitíssimo obrigado! Uma única dúvida, se me permite: por que você analisa a eficiência utilizando a métrica de alavancagem operacional? Algo específico do setor de energia? Vejo muita gente debatendo ROE quando se fala de eficiência.

EDIT

Já que estou no mood pra precificação via fórmula mágica, seguem alguns resultados das empresas que você acha interessante se aprofundar:

Meu ranking hibrido de Graham, PEG e Greenblatt:

PSBe:
image

Interessante que, olhando desta forma, eu acabo pensando que o cenário ideal é pegar 1 de transmissão e 1 de distribuição. E se eu olho as mais interessantes acabo chegando na mesma conclusão que eu já tinha: ENBR e TRPL.

Estendendo um pouco, meus top picks:

  • Geração - talvez OMGE
  • Transmissão - TRPL e talvez TAEE
  • Distribuição - ENBR e EQTL
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Está no capítulo 13 (Alguns números famosos) do livro. A fórmula está descrita com texto e não com símbolos.

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Vale algum cuidado com a fórmula mágica, ele mesmo aponta que não é adequada para setor financeiro e utilities.

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Acho q toda formula mágica precisa ter muito cuidado, mas obrigado pela dica! Eu gosto de usar as fórmulas pra ter uma espécie de “opinião” extra.

Qual forma não á adequada para utilities? O PSBe?

A fórmula mágica, do Greenblatt.

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Ah sim, muito obrigado! Não sabia disso.

Muito legal essas tabelas, confesso que boiei um pouco nas siglas, mas vou procurar entender.

Não acho que o ROE seja uma métrica muito boa no setor elétrico se vista de forma absoluta. Isso porque as usinas mais antigas e depreciadas, terão uma rentabilidade maior, veja a GEPA, enquanto os novos projetos serão penalizados. Talvez seja interessante analisar o ROE vs ROIC para saber se a estrutura de capital está adicionando valor. Para exemplificar:

As últimas fileiras mostram a variação do Ativo Imobilizado nos últimos 12 meses. Na última coluna, VFPLANO, é o ativo imobilizado em uma base 100 após todos esses aumentos. Atente o fato que o aumento do Ativo Imobilizado tende a ser inversamente proporcional ao Giro de Ativos. Muitos desses projetos podem sequer estar operantes ainda ou não estar em plena capacidade.

A alavancagem operacional tem a vantagem de mostrar se a empresa é “pesada”. Se o administrativo sobrecarrega a operação da empresa. No setor, a empresa ideal tem o mínimo possível de pessoas e processos para suas tarefas administrativas. O que não costuma ser uma virtude muito comum nas estatais.

Entendi. Seu conhecimento vai muito além do que sou capaz agora. Muito obrigado por compartilhar. Vou estudar a fundo isso.

Com relação às fórmulas e siglas, são basicamente: fórmula de valuation de graham, fórmula do Peter Lynch (PEG e PEGY) e fórmula de Greenblatt. Eu criei a PEG/PEGY v1 e v2 porque se eu usar o payout no cálculo do crescimento (G da PEG/PEGY) vai dar problema porque este ano foi muito atípico (muitas empresas tiveram payout fora do padrão). Então na PEG v1 eu uso o CAGR do lucro dos últimos 5 anos.

A sigla PSBe você deve conhecer porque é bem comum no fórum.

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A questão do ROE das usinas antigas é porque esses ativos já sofreram muita depreciação ao longo do anos. Então se a empresa investiu 5000 e tira 500 por ano, poderiamos dizer que tem um ROE de 10%… mas como a depreciação comeu metade do ativo, por assim dizer, o ROE dessa mesma usina, por ser antiga, vai ser 500/2500 ou 20%.

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ROE é mais ou menos útil de acordo na confiança que se tem no VP da empresa. Pra bancos é muito bom, pro resto depende de muita coisa.

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Mais dúvidas. Faz sentido comparar PSSA, SULA e BBSE? Se vocês tivessem que escolher 2 delas, quais seriam?

Eu curto muito BBSE pelos altos dividendos, porém estou cogitando focar em outras empresas de seguro que julgo serem mais baratas e com maior potencial de crescimento.